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Abertura do IX Encontro da Rede de Estudos Rurais é marcada por posicionamento de resistência, programa de mobilidade e defesa de novas narrativas sobre desenvolvimento.

Evento segue até sexta-feira, 08 de outubro.

Começou na tarde da última segunda-feira (04/10), às 17h de Brasília, o IX Encontro Nacional da Rede de Estudos Rurais. A abertura do evento contou com as presenças do reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG), Edward Madureira Brasil, e do professor decano de pós-graduação da Universidade Nacional de Brasília (UnB), Lúcio Rennó, que compuseram a Mesa de Abertura. Do Reino Unido, a pesquisadora Lídia Cabral falou sobre a “Narrativa Épica como ferramenta de poder” na Conferência de Abertura.

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As honras aos convidados foram feitas pela coordenadora presidente da Rede de Estudos Rurais, Dra Ramonildes Gomes, e pelo presidente do Comitê de Organização do IX Encontro, Dr. Sergio Sauer. Ambos fizeram uma introdução ao tema Desenvolvimento, financeirização e mercantilização da natureza: desafios agroalimentares globais, que norteará as discussões do evento até o dia 08 de outubro.

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“Nosso objetivo central é que esta semana nós possamos ter reflexões em torno dos problemas, dos desafios, das dificuldades que é esse processo de mercantilização e financeirização da natureza. Mas, mais ou associada a reflexão, a Rede Rural é caracterizada por pessoas que são pesquisadora e militantes, militantes pesquisadoras, portanto, aprofundar nossa disposição de militância e de compromisso com as lutas em prol de um real desenvolvimento do campo brasileiro, com a melhorias das condições de vida da população do campo de igual forma”, explicou Sauer.

Em seguida, Gomes fez um resgate histórico da existência da Rede de Estudos Rurais, destacando os desafios e resistência da Rede pela ciência e pela vida.

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“Passados 15 anos, a Rede segue na luta com outras associações científicas contra tentativas cada vez mais claras de implantar um regime de exceção no Brasil, e nós temos resistido. Resistimos em defesa da importância da ciência no Brasil, contra perseguições e incompreensões”, destacou.

A coordenadora da Rede também lembrou que temas como o ambiente, o ecossistema e a vida passaram a ser mais recorrentes no contexto da Rede de Estudos Rurais. “Mesmo que o atual governo revele completa indiferença e desprezo por essas questões, temos ciência que essa agenda não se compara em grau de importância a morte das quase 600 mil vítimas da covid e a dor de suas famílias”, completou Gomes, destacando indígenas, quilombolas, agricultores familiares pescadoras es pescadores como vítimas .

O professor Lúcio Rennó, da UnB, que compôs a mesa em representação da reitora da UnB, Marcia Abrahão Moura, também demonstrou solidariedade às famílias vítimas de Covid19. Em seguida, Rennó agradeceu as parcerias institucionais que contribuíram para a realização do evento.

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“Tenho certeza que foi um esforço coletivo significativo também, dados os desafios que estão postos para a realização de eventos desse tipo, no meio de uma pandemia, que como foi muito bem lembrado, afeta de maneira muito dramática a nossa população, o nosso país”, solidarizou.

Ciência em Rede

Finalizando as falas da Mesa de Abertura, o reitor da UFG, Edward Madureira Brasil destacou que a ciência é o principal meio para enfrentar o modelo rural devastador que compromete o meio ambiente, o emprego e a saúde.

“É fundamental conhecermos tudo aquilo que foi construído ao longo de gerações junto com a ciência, e esse Encontro é fundamental, importantíssimo para que a gente possa avançar. Fico feliz de saber que existe uma Rede Rural que está no seu 9º Encontro debatendo essa temática com profundidade, com propriedade”, disse.

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O magnífico reitor lembrou que a primeira turma do Brasil do curso de Direito para beneficiários da Reforma Agrária e Agricultura Familiar, vinculado ao Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA) foi formada pela UFG,  que a universidade está iniciando um curso de Agronomia para o referido público no campus de Goiânia e estuda a implementação de um curso de Agroecologia na universidade.

Brasil também falou que a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) criou um Programa que permitirá que estudantes cursem disciplinas em diferentes universidades do país em modalidade virtual.  De acordo com ele, o  Programa de Mobilidade Virtual em Rede (Promover) abrange 12 universidades, entre elas a UnB e UFG, 2 mil disciplinas oferta 10 mil vagas.

“Os limites estão muito mais na nossa cabeça, na nossa tradição, na nossa cultura do que na prática. A palavra Rede me empolga sempre, e quando vejo uma Rede a minha tendência é sempre de apoiar e me colocar ao lado dessa Rede para que a gente possa explorar essa coisa única que só o Brasil tem, que é essa quantidade de instituições, com essa capilaridade”, disse.

O estudo da narrativa

Dando sequência à abertura do IX Encontro, a professora Karla Hora, da UFG, coordenou a Conferência de abertura proferida pela professora Lidia Cabral, do Instituto de Estudos do Desenvolvimento da University of Sussex, no Reino Unido.

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Em sua apresentação, Cabral tomou como base teórica o conceito de narrativa épica para explicar que o modo como as histórias são contadas podem servir de poderosas ferramentas para afirmar determinadas ideologias ou paradigmas de desenvolvimento.

“Esta fala é sobre construções de narrativas sobre o passado, para afirmar posições no presente e reclamar legitimidade para imaginar o futuro, e a minha análise se concentra no campo da ciência e tecnologia agrícola”, delimitou.

A pesquisadora também explicou que o conceito de narrativa utilizado em suas pesquisas não trata apenas de contar uma história a partir da reunião de fatos, e sim de contar uma história a partir de uma visão de mundo, com um propósito.

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“Uma narrativa é, essencialmente, um ato político de expressão. Conforme proposto pela teoria do discurso, uma narrativa é utilizada por sujeitos de um campo específico para influenciarem ou se posicionarem em relação a algo em disputa nesse campo”, argumentou.

Citando suas recentes pesquisas para ilustrar como o conceito se aplica às visões de desenvolvimento científico e tecnológico da Revolução Verde e da Biomimética,ciência que observa os fenômenos da natureza para beneficiar o cotidiano, Cabral destacou que, em ambos os exemplos, a narrativa prevê um heroísmo, momentos fundadores e conquistas específicas no campo científico e tecnológico como forma de manutenção de um discurso dominante.

Provocando a reflexão sobre as narrativas épicas como ferramentas de poder para manutenção de discursos hegemônicos no campo agrícola, a pesquisadora concluiu sua fala lançando questões ao público.

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“Será que precisamos de narrativas que desafiem as épicas estabelecidas, e destaquem outras visões de mundo, outras experiências práticas e formas de saber? Quais são essas narrativas? Que outros heróis e heroínas? Que outros momentos fundadores, memórias e conquistas devemos retratar para enfrentar e desmantelar uma história hegemônica que silencia e oprime?”.

Após responder questões do público mediadas pela professora Karla Hora, Cabral se despediu do público brasileiro manifestando agradecimentos, votos de bom evento e o desejo de retornar ao Brasil. Hora lembrou que a programação do IX Encontro segue na nesta terça-feira, 05/10, a partir das 9h, com a mesa redonda Desenvolvimento, des-envolvimento e transformações agrárias. A atividade terá transmissão ao vivo pela Doity Play e pelo canal no YouTube da Rede de Estudos Rurais.

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