Ementário das Mesas Redondas

Programação

Mesa de abertura: Desenvolvimento, financeirização e mercantilização da natureza: desafios agroalimentares globais


Coordenação

  • Ramonildes Gomes - Coordenadora Presidente da Rede de Estudos Rurais
  • Sergio Sauer - Presidente do Comitê Local de Organização do IX Encontro da Rede de Estudos Rurais)

Convidados

  • Marcia Abrahão Moura - Reitora da Universidade de Brasília (UnB)
  • Edward Madureira Brasil- Reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG)

Conferência de abertura: Narrativa épica como ferramenta de poder: maltusianismo, modernização e sustentabilidade na ciência e tecnologia agrícola


Coordenação

  • Karla Hora - Universidade Federal de Goiás - UFG

Conferencista

  • Lídia Cabral - Cientista Social e  pesquisadora do Institute of Development Studies/ University of Sussex (IDS/Sussex, Reino Unido)

Mesa 01: Desenvolvimento, des-envolvimento e transformações agrárias


Ementa: Refletir sobre “desenvolvimento” no atual momento implica fazer um exercício de desmitificação, ao mesmo tempo sem que essa reflexão signifique a negação da necessidade de colocar o debate na mesa. A academia, em geral adotou uma perspectiva crítica em relação a certas abordagens, particularmente, àquela que via no crescimento econômico, ou nos princípios americanos orientados à gestão pública, a resposta para os males sociais de um país.

Com o tempo, essa perspectiva foi se tornando insuficiente em termos de uma definição operativa e uso analítico pertinente, explicitando, mais claramente, um viés dicotômico de pensar a realidade social com vistas a certos interesses. Assim, os “desenvolvidos” se constituíram em norte (econômico, cultural, político...) para os “subdesenvolvidos”, se manifestando, como uma espécie de movimento inelutável hegemônico do ocidente, “ideologia do progresso” disseminada globalmente.

Considerando a complexidade subjacente a noção, conceito, definição e/ou teoria, mas que produz narrativas que legitimam ações de intervenção, esta mesa pretende analisar os limites, as contradições e potencialidades que subjazem as perspectivas teóricas quando se pensa sobre o desenvolvimento. Pretende-se, ainda, pensar tais questões relacionando-as às transformações agrárias e às diferentes formas de penetração do capitalismo no campo, que por vezes, tem buscado cada vez mais a heteronomia em detrimento da autonomia das sociedades.


Coordenadora

  • Mireya Valencia (RETE/UNB)

Expositores

  • André Dumans Guedes (UFF);
  • Wendy Wolford (Cornell University);
  • Marina Santos – (MST/Via Campesina);
  • Edna Castro (UFPA).


Mesa 02: Mercantilização da natureza nos cerrados: dinâmicas e conflitos de interesses


Ementa: A mesa está organizada para apresentar visões teóricas e metodológicas que analisam o desenvolvimento no Cerrado, a partir das mudanças recentes nos sistemas produtivos do campo, tais com a expansão da pastagem, o avanço da soja, a produção da cana e sua internacionalização.

Esses promoveram uma modernização de “superfície” (a base social permanece coronelista), com a promoção da nova divisão internacional do capital (ex. cadeia da soja e da cana) e a mercantilização das terras, em detrimento dos direitos das comunidades rurais e tradicionais. Dinâmicas que provocam conflitos e impactos socioambientais (por água, terra, aumento do uso de agrotóxicos e comprometimento da sociobiodiversidade).

Na área da saúde, além dos impactos decorrentes do consumo de alimentos contaminados por agrotóxicos, há uma dimensão dos custos da intersecção dos diferentes impactos sobre a saúde humana (consumo de alimentos contaminados + perda da biodiversidade + modificações em hábitos). Essa condição afeta a relação produção-consumo, abrindo novas possibilidades de disputa ideológicas sobre os sistemas agroalimentares.


Coordenador

  • Valter Lucio (Coordenação Nacional Rede de Estudos Rurais)

Expositores

  • Arilson Favareto (UFABC);
  • Mônica Nogueira (UnB);
  • Valney Dias Rigonato (UFOB).

Mesa 03: Das transformações das relações de produção e consumo à questão agroalimentar global


Ementa: As dinâmicas de desenvolvimento, mercantilização e financeirização dos bens da natureza geralmente estão associados à produção de commodities, intensificação e especialização produtiva, circulação em cadeias longas e concentração agroindustrial. Permeando e em contraposição às questões agroalimentares decorrentes dessas dinâmicas, atores, movimentos sociais e redes agroalimentares alternativas ressignificam a tradição, os territórios, as relações sociais e os alimentos em busca de estratégias de vivência, resistência e de construção de sistemas alimentares sustentáveis.

Longe de trajetórias essencialistas, tais dinâmicas são relacionais, permeadas por processos de reação, apropriação e convencionalização. Considerando esse contexto, a Mesa tem como objetivo discutir as transformações e as dinâmicas contemporâneas das relações de produção e de consumo e suas repercussões para o mundo rural. Como “colocar na mesa” as representações sociais do risco alimentar que expressam os valores éticos, sociais e ambientais que modelam práticas alimentares globais fundadas na pouca informação, no desconhecimento geral e na pobreza da população?


Coordenadora

  • Cimone Rozendo (PRODEMA/PPGS – UFRN)

Expositores

  • Renata Motta (ULB-Alemanha);
  • Silvio Porto (UFRB);
  • Fatima Portilho (CPDA - UFRRJ);
  • Paulo Niederle (UFRGS).

Mesa 04: Das terras com donos aos donos sem corpos: financeirização e relações globais


Ementa: A mesa deve problematizar aspectos do contexto de financeirização da agricultura que se instala no país e que vem imprimindo novas marcas nos cenários rurais, despersonificando ações e responsabilidades e vinculando fortemente dinâmicas sociais a interesses globalizados. Tendo isso como base, propõe-se debater as consequências das práticas e imagens que vêm reduzindo ainda mais a terra a mercadoria e a natureza (água, solos, chuva, vegetação nativa) a reservas de bens econômicos, concorrendo com o valor destes enquanto patrimônio e identidade. Nesse processo, almeja-se deixar em evidência novas formas de atores sociais representarem a natureza e a eles mesmos, as lutas sociais e simbólicas para atribuição de sentido ao espaço, as coalisões, discursos e formas de exercício do poder em jogo.

De outro ângulo, busca-se dar luz à mudança na natureza das articulações entre empresas transnacionais e a esfera pública, à emergência de mediadores, às novas formas de atores transnacionais inserirem-se nos contextos locais, enfim, às relações sociais que daí se configuram ou se modificam. Pretende-se, assim, poder-se ir na direção de apreender quais os elos de transmissão de tendências entre o local e o global, que redes são acionadas, que hegemonias passam a operar ordenamentos territoriais, que dinâmicas sociais são produzidas.


Coordenadora

  • Janise Bruno (Coordenação Nacional Rede de Estudos Rurais)

Expositores

  • Klemens Laschefski (UFMG);
  • Sergio Leite (CPDA-UFRRJ);
  • Louise Nakagawa (CEBRAP).

Painel de encerramento: Agricultores, camponeses, populações tradicionais, terra e trabalho: cenários de re-existência


Ementa: O aprofundamento da mercantilização e da financeirização dos bens da natureza que vem sendo imposta pelas elites, fundando uma nova ordem de mercados globais alimentares. A continuidade do projeto de acumulação rentista pela via dos negócios do agro, das águas e da mineração, ganham novos contornos numa tentativa cada vez maior de flexibilização das leis ambientais e de reversão dos direitos territoriais de povos e comunidades tradicionais.

Tudo isso culmina na elevação da violência, contra indígenas, quilombolas e camponeses. Uma nova ofensiva do pacto do agronegócio rentista sobre assentamentos de reforma agrária, terras indígenas, quilombolas e de demais povos e comunidades tradicionais, é sustentada por uma opacidade desses espaços construída por uma indiferença consentida pelos grandes veículos de mídia, transformando-os em zonas de extermínio. Aqueles que lutam por direitos e que ainda constroem relações de sentido intensas com a terra, com a floresta, com as águas e com a cidade - no interior da Amazônia, dos Cerrados e das Caatingas, assim como a periferia das grandes cidades - são negligenciadas em favor da sacralização da mercadoria e da propriedade privada.

É então necessário situar nesse campo teórico e de luta os diversos grupos sociais protagonistas do Campo - camponeses, populações tradicionais, indígenas, as populações quilombolas, as minorias enfim, os agricultores e agricultoras - que têm sido responsáveis pela reconfiguração e produção do espaço rural, imprimindo no urbano as ruralidades, consolidando um entrelaçamento do/no espaço em novos formatos e reivindicam sua centralidade na conquista e consolidação de um conjunto de leis e direitos para combater desigualdades estruturais, institucionais e simbólicas que trouxeram contribuições para a conquista e promoção dos direitos de cidadania. A lentidão das mudanças e aliada aos ataques mais recentes nos leva a indagar sobre a existência de meios efetivos para combater e fazer avançar a desigualdade que afeta as pessoas no embate direto frente as questões da raça e da etnia, do gênero, da geração, entre outros? É possível intervir e recolocar na agenda nacional a necessidade das políticas de igualdade racial, que certamente conduzirão a igualdade de oportunidades?


Coordenadora

  • Catia Grisa (Coordenação Nacional Rede de Estudos Rurais)

Expositores

  • Fabya Reis (Sec Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial do estado da Bahia);
  • Marco Mitidiero Jr. (UFPB);
  • Alex Shankland (IDS – Sussex);
  • Elisabetta Recine (UnB).