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9º Encontro da Rede de Estudos Rurais abordará  “Desenvolvimento, Financeirização e Mercantilização da Natureza: Desafios Agroalimentares Globais”  1

9º Encontro da Rede de Estudos Rurais abordará  “Desenvolvimento, Financeirização e Mercantilização da Natureza: Desafios Agroalimentares Globais” 

Fim de políticas de desenvolvimento, rompimento de barragens e volta da fome motivam o tema; inscrições para o evento seguem até outubro.

O desmantelamento de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento rural brasileiro, os crimes ambientais nas cidades de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, a crescente da fome e insegurança alimentar diante das crises política e sanitária global. 

Esses e outros fatos recentes da história levaram a comissão organizadora do 9º Encontro da Rede de Estudos Rurais ao tema Desenvolvimento, Financeirização e Mercantilização da Natureza: Desafios Agroalimentares Globais, que reunirá, entre os dias 04 e 08 de outubro, pesquisadores de diferentes áreas do conhecimento na edição do ano 2021.

A escolha do assunto, explicou a coordenadora presidente da Rede, Dra. Ramonildes Gomes, reproduz a formação de uma rede.  

À medida em que a gente amarrou um nó central pelo tema geral, fomos tecendo os fios que se desdobraram nos grupos de trabalhos, depois na composição das mesas, para que, de fato, a gente tenha uma reprodução daquilo que idealizamos e tentamos materializar cotidianamente como sendo a Rede de Estudos Rurais”, explicou Gomes, em entrevista pela internet. 

É também pela rede mundial de computadores (www) que as discussões sobre o tema acontecerão na primeira semana de outubro. Os inscritos no 9º encontro terão acesso às salas virtuais onde serão realizados os 12 Grupos de Trabalho (GTs) e as cinco mesas que tratarão do desenvolvimento, da financeirização, da mercantilização da natureza e dos desafios agroalimentares globais. 

 

Qual desenvolvimento? 

A busca por possíveis respostas para a questão surgiu ainda durante o 7º Encontro da Rede de Estudos Rurais, em 2016, ano em que o Brasil passou por rupturas no cenário político que resultaram na extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). 

A pasta tinha como competências a criação de políticas públicas com foco em reforma agrária, a promoção do desenvolvimento sustentável de segmento rural constituído pelos agricultores familiares, identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das comunidades quilombolas.

O consequente e sucessivos desmontes de políticas públicas destinadas ao desenvolvimento daquelas competências do MDA mobilizou a atenção de pesquisadoras e pesquisadores da Rede para as novas direções das atuais políticas de desenvolvimento. Nesta 9º edição do Encontro, o enfoque das discussões estará nos aspectos teóricos e metodológicos que norteiam tais políticas.

“Afinal, é uma teoria, é uma metodologia de intervenção, é um projeto político? O que significa, de fato, desenvolver e desenvolvimento enquanto um processo? Então a gente achou que essas seriam palavras de ordem, uma categoria fundante, digamos assim, das preocupações do Encontro”, explicou Gomes. 

Para debater sobre o tema, as pesquisadoras Marina Santos, do Movimento Sem Terra/Via Campesina, Wendy Wolford, da Cornell University (Estados Unidos), André Duma Guedes, da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Edna Castro, da Universidade Federal do Pará (UFPA) participam da mesa 01 – Desenvolvimento, des-envolvimento e transformações agrárias, que ocorrerá no dia 05/10

 

Outros olhares sobre financeirização e mercantilização da natureza

O rompimento das barragens de rejeitos de minérios nas cidades de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, ambas no estado de Minas Gerais, também mobilizaram a atenção da comissão organizadora do 9º Encontro, que identificou nestes episódios a necessidade de ampliar o debate sobre financeirização e mercantilização da natureza. 

“Esse olhar sobre as diferenças de recursos que são aportados para a agricultura familiar e para o agronegócio me parece já estar bastante claro. Todo o problema para nós consiste, justamente, numa série de outras formas de financeirização que se abatem sobre a água, os solos, a chuva, a vegetação, as áreas que detém recursos minerais, o patrimônio e a identidade de certos grupos que estão intimamente ligados a esses recursos”, destacou Gomes. 

Além das vidas perdidas, a lama de rejeitos de minério proveniente do rompimento das barragens destruiu a cidade de Bento Rodrigues, áreas remanescentes de Mata Atlântica,  as bacias hidrográficas do Rio Doce e do Rio Paraopeba, e a biodiversidade dos biomas da região. 

“Essas duas tragédias são emblemáticas e exemplares desse tipo de financeirização. Quer dizer, você tem compromissos com grandes empresas, ali capitaneadas pela Vale, e ali a gente tem um desastre que não só ceifa vidas, mas ceifa a possibilidade e a perspectiva de futuro dos grupos que foram ali impactados, dizimados”, completou. 

Na programação do 9º Encontro, as mesas dos dias 05 e 07 de outubro serão dedicadas ao tema financeirização e mercantilização da natureza. Na segunda mesa do dia 05- Mercantilização da natureza nos cerrados: dinâmicas e conflitos de interesses, os pesquisadores Arilson Favareto, da Universidade Federal do ABC (UFABC), Mônica Nogueira, da Universidade de Brasília (UnB) e Valney Dias Rigonato, da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB) conduzirão as discussões sobre o tema. 

Já na mesa do dia 07 – Das terras com donos aos donos sem corpos: financeirização e relações globais, apresentarão contribuições os pesquisadores Klemens Laschefski, da Universidade Federal de Minas Gerais; Sergio Leite, do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ) e Louise Nakagawa, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). 

 

Sistemas agroalimentares

Entre as consequências da crise sanitária do coronavírus, a insegurança alimentar e a fome ganharam contornos ainda mais dramáticos em todo o mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). No Brasil, além da pandemia, 19 milhões de brasileiros enfrentam a epidemia de fome, de acordo com dados do inquérito Olhe Para a Fome, produzido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Pensan). 

Neste cenário, o 9º Encontro dedica a mesa do dia 06 de outubro para a discussão – Das transformações das relações de produção e consumo à questão agroalimentar global . O debate será conduzido pelas pesquisadoras Renata Motta, da Universitäts- und Landesbibliothek Bonn (ULB – Alemanha); Silvio Porto, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB); Fátima Portilho, do Programa de Pós-graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da UFRRJ (CPDA-UFRRJ); Paulo Niederle, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Para nós, pensar sobre a relação produção, consumo e acesso ao alimento está muito mais relacionada à questão da saúde, da criação de nichos e oportunidades para a pequena produção, ou para a agricultura familiar, assim como também o compromisso político de garantir o acesso ao alimento saudável e em quantidade na mesa do trabalhador. Esses são princípios norteadores, politicamente falando, que inspiram a existência da própria Rede de Estudos Rurais”, concluiu Gomes. 

 

Tecendo os fios da Rede

Até o dia 01 de agosto, as inscrições para o evento oferecem pacotes especiais para sócios, novos sócios e não associados interessados em integrar o corpo de pesquisadores da Rede de Estudos Rurais. 

Além dos palestrantes convidados para as mesas dedicadas ao tema central, o 9º Encontro da Rede de Estudos Rurais também abrirá espaço para pesquisadoras e pesquisadores apresentarem os resultados de suas pesquisas em 12 Grupos de Trabalho (GTs). 

As Sessões Autogestionadas também são fios que compõem a estrutura desta edição do Encontro. Elas funcionarão como espaços para articulação de ideias sobre o tema central, tendo como foco principal grupos de pesquisa, laboratórios e redes temáticas.

 

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