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Painel de Encerramento debateu luta pela vida e solidariedade como resistência de agricultores, camponeses e povos tradicionais no cenário de financeirização e mercantilização da natureza

X Encontro acontecerá no ano 2023 na  Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)

Na tarde da última sexta-feira, 08 de outubro de 2021, a resistência de agricultores, camponeses e povos tradicionais diante dos processos de financeirização, mercantilização e dos desafios agroalimentares foi tema das reflexões do Painel de Encerramento do IX Encontro Nacional da Rede de Estudos Rurais. 

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Redeiras e redeiros conectaram-se via  YouTube e também na plataforma Doity Play aos pesquisadores Marco Mitidiero, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Alex Shankland, do Institute of Development Studies (IDS- Sussex), Elisabetta Recine, da Universidade de Brasília (UnB) e Fabya Reis,  secretária de Políticas de Promoção e Igualdade Racial do Estado da Bahia (Sepromi).

Mediados pela pesquisadora Cátia Grisa, da diretoria da Rede de Estudos Rurais, os convidados destacaram os recentes movimentos de Luta pela Vida diante das violências como mediação do capital, as zonas dos sacrifícios e ações em rede de solidariedade como forma de resistência. 

Marco Mitidiero Jr., da UFPB, iniciou o debate resgatando as principais lutas dos povos tradicionais, agricultores e camponeses desde os anos 1980 até os momentos mais recentes. De acordo com o pesquisador, naquela época, as resistências dos povos foram marcadas, primeiro, pelas lutas pela terra e, em seguida, pelas lutas pelo território. 

“Não era mais a luta pela terra em si, mas a luta pelo território, a luta pela autonomia e emancipação desses povos do campo”, explicou.

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“Uma nova noção começa a aparecer, eu vou chutar os último dez, cinco anos precisamente, que é a ideia de luta pela vida e outras derivações: projeto de vida x projetos de morte, territórios de vida x territórios de morte”, explicou

Ele observou que no Brasil e em outros países da América Latina, a luta pela vida está no grito dos movimentos sociais. “E a gente começa a viver, os movimentos e as resistências, que agora estão começando a lutar pela vida”, disse. 

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Dando sequência a sua fala, Mitidiero associou a luta pela vida a um conjunto de violências, dando destaque para o que ele chamou de violência legislativa, que corresponde a formulações de projetos e leis que retiram direitos já garantidos de agricultores, camponeses e povos tradicionais. 

O conceito de violência legislativa também perpassou a fala da secretária de Promoção da Igualdade Racial do Estado da Bahia, Fabya Reis. Apresentando um panorama de políticas públicas destinadas aos povos tradicionais, Reis destacou os povos quilombolas, e falou sobre articulações interétnicas e outros segmentos tradicionais para pautar suas demandas como uma forma de resistência. 

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“A gente acompanha com atenção todo o processo de como as políticas públicas foram subtraídas do que foi já construído em termos de marcos regulatórios, o que não era suficiente para essa garantia jurídica, além da morosidade, e agora o completo corte de recursos públicos para que isso caminhe”, disse.

Ela ainda chamou atenção para o fato de ser a única secretária de Promoção e Igualdade Racial em todo o Brasil o que, de acordo com ela, indica uma desarticulação do sistema de promoção da igualdade racial em todo o país,  em um contexto que demanda o aprofundamento de reparação de comunidades e povos tradicionais.

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“Significa dizer que um país que tem um passado em que nós fomos nos estruturando racialmente e que, finalmente, em 1988, quando essas conquistas começam a figurar em termos de desenhos de políticas públicas, hoje,  tem cada vez menos estímulos para construir as políticas de reparação, para construir as garantias das políticas territoriais para os nossas públicos tradicionais, públicos de assentamento  um modo geral”, analisou.

Contribuindo para o debate sobre violência legislativa, Alex Shankland, do Institute of Development Studies (IDS- Sussex) apresentou uma definição de zona de sacrifício. De acordo com o pesquisador, o termo presente na literatura norte-americana remete a antigos debates sobre racismo ambiental e destruição de territórios indígenas e afroamericanos pela indústria. 

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“Esse conceito de Zona de sacrifício dialoga muito bem com necropolítica e biopolítica. A noção de sacrifício e quem sacrifica quem para qual ganho é muito produtivo em termos de reflexão sobre os processos e regimes de extração que se configuram atualmente no mundo”,  explicou. 

Encerrando as falas, Elisabetta Recine, da UnB, apresentou um conjunto de iniciativas em rede para alimentação durante o período de pandemia, contexto no qual mais de 19 milhões de brasileiros foram identificados em situação de fome e insegurança alimentar. De acordo com ela, iniciativas solidárias. 

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“Iniciativas na pandemia que genericamente podem se caracterizar como solidariedade, mas eu queria destacar uma outra solidariedade que é uma solidariedade entre iguais, uma solidariedade horizontal”, detalhou.

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Destacou-se entre as ações solidárias apresentadas pela pesquisadora a atuação em redes institucionais, com ações também em redes digitais, como lives, reuniões, construções de agendas, mas também ações de distribuição de alimentos, evidenciando modos de organização daquelas redes como processo de resistência.

Após as apresentações, os pesquisadores responderam a um bloco de questões lançado pelos participantes do evento. A coordenadora da mesa e membro da diretoria da Rede de Estudos Rurais encerrou o IX Encontro agradecendo aos organizadores do evento, saudando a nova diretoria da Rede de Estudos Rurais eleita e ao público que participou das atividades.

A X edição do Encontro acontecerá no ano de 2023, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

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